domingo, 14 de março de 2010

IRONIA?

Marcus de Medeiros Matsushita
Doutor em Sociologia pela Sorbonne
Professor da Universidade do Paraná


Não é irônico? Um governo eleito sob a bandeira do Fome Zero é aliado e defensor de outro que não se importa que pessoas morram de fome.

Não é irônico? Um governo devolve dois pugilistas que fogem da miséria e de uma ditadura em seu país,mas quer manter um criminoso de crimes comuns "por razões humanitárias".

Não é irônico? Um governo que foi Oposição e cujos dirigentes sofreram perseguições em uma ditadura militar, agora se alia a governos militares e ditatoriais e os defende.

Não é irônico? Um Partido que em sua primeira eleição democrática para Presidente da República demonizou determinado candidato(Collor) e agora divide o palanque com esse mesmo candidato.

Pois é. O mundo dá voltas. Dá tantas voltas que faz o certo parecer errado, e esquerdo parecer direito.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O PESO DO CUSTO BRASIL

Editorial Zero Hora, de 09/03/2010

Governo e legisladores, omissos diante do Custo Brasil, estão em descompasso com o dinamismo das empresas brasileiras, num mercado mundial cada vez mais competitivo.


Estudo inédito da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos dimensionou as barreiras enfrentadas historicamente pelas empresas em consequência do chamado Custo Brasil. Trata-se da análise de um conjunto de fatores que tiram competitividade da indústria há décadas e que tiveram seus efeitos amplificados nos últimos anos pelo aumento da competição internacional. O dado mais alarmante da análise aponta que, no confronto com empresas dos Estados Unidos e da Alemanha, o setor produtivo brasileiro tem custos 36,27% mais altos.

Conspiram contra quem produz os impostos, os altos juros, a burocracia, o excesso de regulamentações, a falta de investimentos em infraestrutura, os custos da energia e de insumos básicos e os encargos sociais e trabalhistas. Empreendedores nacionais e estrangeiros com operações no Brasil se defrontam há muito com esses entraves. Mas pela primeira vez, ao analisar oito dos mais de 30 itens do Custo Brasil, tem-se com clareza um painel do peso de cada um para uma comparação com a situação de duas potências mundiais.

A conclusão óbvia do estudo é que um país sempre citado entre os candidatos a potência mundial não tem como enfrentar a forte competição sem fronteiras se não superar questões decisivas para a criação de um ambiente propício ao investimento. E não se trata, como observam os técnicos da Abimaq envolvidos com o estudo, de confrontar o cenário brasileiro com o de competidores mais agressivos, como a China, onde os custos de produção são bem mais baixos, em consequência das conhecidas particularidades da ascensão daquele país no cenário internacional.

A análise informa que esse conjunto de obstáculos estruturais não representa desestímulo apenas às empresas nacionais, mas a todos os que já investiram ou pretendem investir no Brasil. Tanto que a Abimaq cita o exemplo de grupos com tradição na indústria brasileira de máquinas que, por pressão de custos, optaram por importar produtos acabados, apenas gravando suas marcas em equipamentos estrangeiros. Para sobreviver, empresas respeitadas adotam o pragmatismo, o que resulta em abalo na autoestima de quem gostaria de produzir e gerar emprego e renda.


O Custo Brasil é a expressão da omissão do governo e dos legisladores, que adiam reformas, ampliam ao invés de reduzir a carga tributária e são indiferentes às aberrações da burocracia. Para desfrutar da recuperação da economia e continuar almejando posição mais privilegiada no contexto mundial, o país não pode desdenhar as conclusões incontestáveis de estudos como o realizado pela Abimaq.

É incompreensível que, num momento em que as empresas vêm se destacando pelo dinamismo, o setor público e os legislativos, em todos os níveis, continuem em descompasso com empreendedores que investem em gestão, na qualidade de seus produtos e na complexa prospecção de novos mercados, para enfrentar competidores cada vez mais fortes.

Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, RS